Uma vez por ano pessoas se agrupam ao redor de gigantescos formigueiros para capturar as rainhas enormes e preparar um prato tradicional muito apreciado.
A imprensa costuma mostrar exemplos de comunidades de países da Ásia que comem insetos como se fosse algo surpreendente para os brasileiros. Pode até ser para muitos, mas não para quem vive no interior de São Paulo e Goiás onde é uma tradição as pessoas comerem formigas.
É uma iguaria cara servida nos restaurantes de cidades paulistas do Vale do Rio Paraíba. É muito tradicional em Silveiras (SP). Em Cruzeiro (SP) o prato com formiga é o carro chefe de um restaurante que mantém um estoque de formigas congeladas para poder atender a clientela o ano todo. Em Lorena e Piquete também as pessoas apreciam muito a iguaria.
Mas não é qualquer formiga que as pessoas comem. Trata-se da içá ou tanajura, a rainha enorme do formigueiro de uma espécie de carregadeira que ocorre nas regiões de Cerrado. Apenas uma vez por ano as rainhas saem do formigueiro.
O fenômeno ocorre logo após a primeira ou segunda chuva forte da primavera. Geralmente é um único dia do ano que as iças saem durante o dia. Pode ocorrer de no dia seguinte o fenômeno se repetir caso tenha ocorrido interrupção no dia “D” pelas condições do tempo (chuva ou vento).
Neste ano, na região de São José dos Campos (SP) o dia “D” ocorreu em 27/10/2017. As rainhas (içás) começaram a sair por volta da 14:30h e cessaram por volta das 17:30h, por causa do vento. Eu acompanhei um grupo que estava fazendo a captura de iças num formigueiro antigo, conhecido deles há anos, na área Jardim Paulista. Vejam as cenas que registrei neste vídeo.
Enquanto capturavam as içás, levando mordidas doloridas nos pés das guardiãs e operárias, me ensinaram muita coisa interessante sobre a ecologia desta formiga. Eles conhecem todos os hábitos curiosos da espécie. Um formigueiro leva muitos anos para começar a produzir içás (vôo das rainhas) como este enorme formigueiro mostrado no vídeo.
Repare a área bem limpa em volta do formigueiro. Foram as formigas que fizeram uns dias antes das rainhas saírem para o vôo nupcial, isto é, para acasalamento com o macho. Então, elas abrem estes buracos que são fechados após as rainhas voarem.
As formigas aladas menores são os machos, denominados de iça-bitu, que saem do ninho em maior quantidade antes das rainhas e não são alvo da captura por não serem comestíveis. Eles voam acasalarem com as rainhas (içás) no ar, conseguindo ou não, caem e morrem logo em seguida.
O impacto ambiental desta captura em áreas urbanas deve ser insignificante. Não há predadores naturais e a prefeitura não dá conta de aplicar tanto veneno nos parques e praças. Os cemitérios da cidade estão infestados de formigueiros. Por toda a parte, nas calçadas das ruas e avenidas de São José dos Campos ficam com uma quantidade impressionante de machos e rainhas pisoteados pelas pessoas.
Algumas pessoas capturam formiga iça para vender. Ano passado, meu colega pagou R$ 30,00 pelo conteúdo de uma garrafa PET de 2 litros, porque queria experimentar a iguaria. Por falta de conhecimento, acabou sendo enganado pois a maior parte das formigas era iça-bitu (machos).
Achei muito interessante a harmonia das pessoas que capturavam as formigas. Observe isso no vídeo Verifiquei que eles não se conheciam e pacificamente cada um ocupou um espaço ao redor do formigueiro e interagiam como se fossem membros da mesma família
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