A Rã-de-cachoeira (Cycloramphus asper) vive exclusivamente nas cachoeiras dos riachos da Serra do Mar e estava ameaça em Joinville (SC) pela iluminação das cachoeiras com potentes holofotes, que foram desligados pela ação de uma pequena ONG, o Instituto Rã-bugio.
Um artigo científico publicado em 2007 na revista norte-americana Science, sobre o qual o site O ECO fez
uma matéria, revela que as ricas e poderosas ONGs ambientalistas estrangeiras são muito eficientes em promover campanhas para arrecadar fundos nos países em desenvolvimento como o Brasil, mas são as pequenas ONGs locais que defendem a natureza de forma eficaz.
Lembrei de um caso que confirma a conclusão do artigo publicado na Science. Uma ONG estrangeira, muito rica e poderosa, está promovendo do nosso País a campanha "Hora do Planeta" (apague a luz por uma hora), com o propósito de combater o aquecimento global. Ganhou um espaço considerável em todos os meios de comunicação.
Diz a propaganda que na campanha do ano passado quatro mil cidades aderiram e até o Congresso Nacional (que neste momento está empenhado em derrubar o código florestal) também se sensibilizou e apagou as luzes... Enfim, a ONG estrangeira está alardeando pelos quatro cantos que a campanha em 2009 no Brasil foi um sucesso. Mas qual o indicador de sucesso que estão usando? Arrecadação de fundos (como o artigo da Science aponta)? Só pode ser, porque dados das
ANEEL revelam que o consumo de energia elétrica no Brasil cresceu 10,4% no ano passado (veja os detalhes
aqui), e o aumento mais forte do consumo ocorreu logo após a campanha. Portanto, a campanha não funcionou, pois não se observou uma redução do consumo de energia elétrica para amenizar o problema do aquecimento global, conforme prometia a propaganda.
Tenho um exemplo concreto de que há 7 anos fizemos uma "Hora do Planeta" mais eficaz. Em 2003, instalaram potentes holofotes para iluminar as cachoeiras da Serra do Mar, em Joinville (SC), na rodovia SC-301 (Estrada Dona Francisca), que corta um trecho preservadíssimo de Mata Atlântica, onde vivem espécies ameaçadas de anfíbios, do gênero
Cycloramphus, que são endêmicas das cachoeiras da Serra do Mar e precisam da escuridão da noite para procurar alimente e se reproduzir.
Então, fizemos um apelo
por meio de uma carta para a distribuidora de energia elétrica em SC,
CELESC , que assumiu a manutenção da iluminação após a instalação, para APAGAR PARA SEMPRE os holofotes (e não apenas por uma hora para os noticiários da TV mostrar). Uma funcionária da empresa nos telefonou para dizer que a CELESC ira atender o nosso apelo e assim fez.
Ano passado, fiquei hospedado na sede de uma fazenda desativada no alto das montanhas da Serra do Mar, em Joinville, região dos campos de altitude. Fiquei alarmado com a quantidade de
mariposas que eram atraídas pelas lâmpadas fluorescentes. O caseiro contou-me que já chegou a juntar um saco de 60 kg de mariposas mortas em apenas uma noite em que esqueceu de apagar as lâmpadas externas. Isto nós dá uma idéia do impacto da iluminação em áreas preservadas.
Eu li em algum lugar que há estudos científicos comprovando o enorme impacto ambiental causado pela iluminação do Cristo Redentor a partir de 1931. Hoje se sabe que houve um grande declínio na população de insetos, a mortandade de mariposas e outros tem sido considerável. Combater efetivamente este tipo de problema (massacre de seres vivos e desperdício de energia) fica obviamente para as pequenas ONGs cariocas.
Assim como o nosso exemplo, deve haver vários outros de pequenas ONGs que combateram iluminação em praias onde desovam tartarugas, iluminação de estradas rurais despovoadas que cortam matas preservadas, unidades de conservação... agressões contra a natureza geralmente feita por estas mesmas prefeituras que aderiram a campanha Hora do Planeta e apagaram as luzes de suas instalações por uma hora.