Matas secundárias duramente atingidas pela nevasca em Santa Catarina. Local: RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC). Foto 09/08/2013. Clique sobre a imagem para ampliar |
A destruição foi maior do que imaginamos. É difícil quantificar a tragédia, mas pudemos constatar que as espécies de árvores pioneiras foram as mais duramente atingidas. Nos 4 quilômetros da trilha da pedreira, traçado de uma estrada abandonada, na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, constatamos que em torno de 20% das árvores pioneiras, (árvores moles de crescimento rápido, como vassourão e maria mole) tombaram e quase todas as remanescentes perderam parte dos galhos. Foram consumidas várias horas de motosserra para reabrir a trilha usada para fiscalização da RPPN.
É um impacto considerável nesta parte da RPPN haja vista esta área ao longo da trilha está em processo de regeneração, mas é colonizada por bambuzais (taquara-lixa, taquara-lambedora e carazeiro) que agora sem a competição por luz com as árvores aniquiladas pela neve vão ganhar força para sufocar ainda mais o restante da vegetação, impedindo a regeneração de novas árvores e arbustos e empobrecendo a biodiversidade. Muitas clareiras foram abertas.
O que mais nos entristeceu foi a destruição na mata primária da RPPN, nas áreas onde nunca houve extração de madeira. Encontramos várias clareiras abertas, com até meio hectare, causadas pela queda de árvores centenárias em efeito dominó. Observamos casos onde uma árvore gigantesca tombada na borda da chapada foi derrubando outras em efeito dominó até o fundo do vale do rio do couro, numa distância estimada superior a 300 metros. É normal encontrar uma ou outra árvore centenária caída no meio da floresta primária, afinal as árvores morrem um dia, mas não tantas ao mesmo tempo.
Mata primária às margens do rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC). Foto 05/08/2013. Clique sobre a imagem para ampliar |
Em uma floresta tropical, como a Mata Atlântica, é difícil quantificar o impacto pelo número de árvores tombadas ou galhos quebrados, por exemplo. Os estragos que verificamos na mata primária são parecidos com aqueles provocados pela extração de madeira (o abate de uma árvore derruba várias outras no entorno) e pode levar no mínimo 300 anos para a floresta ficar como estava no dia anterior da nevasca, 23/07/2013, que é o tempo necessário para as árvores atingirem o porte das que foram derrubadas e cumprirem a mesma função ecológica, caso as clareiras abertas não sejam colonizadas pelos taquarais (bambuzais) e pela uva-do-japão ou pé-de-galinha (Hovenia dulcis). No caso das matas secundárias atingidas, caso seja possível a regeneração, este tempo deverá ser de 40 ou 50 anos.
Na visita feita em vários pontos dos 860 hectares das RPPNs pode-se concluir que na mata primária os danos foram pequenos e nas matas secundárias (que foram desmatadas nos últimos 50 anos e se regeneraram espontaneamente) os danos foram consideráveis. Os dois vendavais fortes que ocorreram nos últimos anos também causaram danos mínimos nas matas primárias e danificaram bastante as matas secundárias.
Percebe-se, então, que as matas secundárias são mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos e estão condenadas a permanecerem eternamente em estágio médio de regeneração se estes eventos tornarem-se frequentes. Consequentemente todo o esforço da sociedade brasileira deve ser empreendido para salvar as matas primárias do desmatamento que concentram uma grande riqueza de biodiversidade e, aparentemente, são imunes aos eventos climáticos extremos.
Destruição no rio Couro (Clique sobre as imagens para ampliar)
Centenas de árvores de pequeno porte tombaram sobre o rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar |
GUABIROBA (Campomanesia xanthocarpa) que tombou às margens do rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar |
Árvore centenária que tombou sobre o rio do Couro ao lado de uma caverna na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar |
Efeito dominó: A árvore da borda da chapada tombou e foi derrubando as outra até o fundo do vale do rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar |
Destruição na trilha da Pedreira (Clique sobre as imagens para ampliar)
A maioria das árvores pioneiras teve parte dos galhos quebrados devido ao peso da neve acumulada. Clique sobre a imagem para ampliar |
Estrada da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí ficou obstruída pelas várias árvores que tombaram devido ao peso da neve. Clique sobre a imagem para ampliar |
Destruição na RPPN das Araucárias Gigantes (Clique sobre as imagens para ampliar)
Restou apenas o tronco de uma árvore de grande porte na RPPN das Araucárias Gigantes. Clique sobre a imagem para ampliar |
Gigantesco exemplar de ARAÇA-PITANGA que teve o tronco quebrado devido ao peso da neve na RPPN das Araucárias Gigantes. Clique sobre a imagem para ampliar |
Vista da paisagem de uma área da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí revela a destruição
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