quinta-feira, 18 de março de 2010

Hora do Planeta e a hora da verdade: pequenas ONGs fazem a diferença

A Rã-de-cachoeira (Cycloramphus asper) vive exclusivamente nas cachoeiras dos riachos da Serra do Mar e estava ameaça em Joinville (SC) pela iluminação das cachoeiras com potentes holofotes, que foram desligados pela ação de uma pequena ONG, o Instituto Rã-bugio.

Um artigo científico publicado em 2007 na revista norte-americana Science, sobre o qual o site O ECO fez uma matéria, revela que as ricas e poderosas ONGs ambientalistas estrangeiras são muito eficientes em promover campanhas para arrecadar fundos nos países em desenvolvimento como o Brasil, mas são as pequenas ONGs locais que defendem a natureza de forma eficaz.

Lembrei de um caso que confirma a conclusão do artigo publicado na Science. Uma ONG estrangeira, muito rica e poderosa, está promovendo do nosso País a campanha "Hora do Planeta" (apague a luz por uma hora), com o propósito de combater o aquecimento global. Ganhou um espaço considerável em todos os meios de comunicação.

Diz a propaganda que na campanha do ano passado quatro mil cidades aderiram e até o Congresso Nacional (que neste momento está empenhado em derrubar o código florestal) também se sensibilizou e apagou as luzes... Enfim, a ONG estrangeira está alardeando pelos quatro cantos que a campanha em 2009 no Brasil foi um sucesso. Mas qual o indicador de sucesso que estão usando? Arrecadação de fundos (como o artigo da Science aponta)? Só pode ser, porque dados das ANEEL revelam que o consumo de energia elétrica no Brasil cresceu 10,4% no ano passado (veja os detalhes aqui), e o aumento mais forte do consumo ocorreu logo após a campanha. Portanto, a campanha não funcionou, pois não se observou uma redução do consumo de energia elétrica para amenizar o problema do aquecimento global, conforme prometia a propaganda.

Tenho um exemplo concreto de que há 7 anos fizemos uma "Hora do Planeta" mais eficaz. Em 2003, instalaram potentes holofotes para iluminar as cachoeiras da Serra do Mar, em Joinville (SC), na rodovia SC-301 (Estrada Dona Francisca), que corta um trecho preservadíssimo de Mata Atlântica, onde vivem espécies ameaçadas de anfíbios, do gênero Cycloramphus, que são endêmicas das cachoeiras da Serra do Mar e precisam da escuridão da noite para procurar alimente e se reproduzir.

Então, fizemos um apelo por meio de uma carta para a distribuidora de energia elétrica em SC, CELESC , que assumiu a manutenção da iluminação após a instalação, para APAGAR PARA SEMPRE os holofotes (e não apenas por uma hora para os noticiários da TV mostrar). Uma funcionária da empresa nos telefonou para dizer que a CELESC ira atender o nosso apelo e assim fez.

Ano passado, fiquei hospedado na sede de uma fazenda desativada no alto das montanhas da Serra do Mar, em Joinville, região dos campos de altitude. Fiquei alarmado com a quantidade de mariposas que eram atraídas pelas lâmpadas fluorescentes. O caseiro contou-me que já chegou a juntar um saco de 60 kg de mariposas mortas em apenas uma noite em que esqueceu de apagar as lâmpadas externas. Isto nós dá uma idéia do impacto da iluminação em áreas preservadas.

Eu li em algum lugar que há estudos científicos comprovando o enorme impacto ambiental causado pela iluminação do Cristo Redentor a partir de 1931. Hoje se sabe que houve um grande declínio na população de insetos, a mortandade de mariposas e outros tem sido considerável. Combater efetivamente este tipo de problema (massacre de seres vivos e desperdício de energia) fica obviamente para as pequenas ONGs cariocas.

Assim como o nosso exemplo, deve haver vários outros de pequenas ONGs que combateram iluminação em praias onde desovam tartarugas, iluminação de estradas rurais despovoadas que cortam matas preservadas, unidades de conservação... agressões contra a natureza geralmente feita por estas mesmas prefeituras que aderiram a campanha Hora do Planeta e apagaram as luzes de suas instalações por uma hora.

5 comentários:

Gadelha Neto disse...

Caros colegas:
Ao mesmo tempo em que gostaríamos de parabenizá-los por suas iniciativas, gostaríamos de registrar duas pequenas correções: Em primeiro lugar, o WWF-Brasil, responsável pela Hora do Planeta no país é uma organização brasileira, com diretores, técnicos, conselheiros e, principalmente agenda e prioridades brasileiros, Trabalhamos em rede com outras organizações nacionais de outros países em busca de resultados de conservação globais.

Em segundo lugar, cabe registrar que o apagar das luzes no Brasil não guarda qualquer relação com consumo de energia. Trata-se de um sinal aos governos para que detenham o desmatamento no país. Como se sabe, o desmatamento é responsável por cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa no país. O cerne da questão da Hora do Planeta é este: redução das emissões.

No mais, reiteramos nossos parabéns pela sua luta em favor de um mundo melhor.

Gadelha Neto
Jornalista, Ass. Com. WWF-Brasil

Prof. Keli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Prof. Keli disse...

Realmente as atitudes pontuais mostram-se mais eficientes. É o que percebo como educadora. Muito da "conscientização" realizada nas escolas acaba sendo "coisa para inglês ver". Por exemplo, na próxima semana várias escolas do Brasil, inclusive a que leciono, estarão engajadas na produção de diversos materiais para exposições da semana da água. E depois? E qual atuação real da escola nas questões ambientais? que atitudes foram transformadas de modo significativo nos sujeitos que participam destas companhas e comemorações?
Concordo plenamente com sua colocação Germano é a ação que faz a diferença! Megacampanhas de conscientização não surtem resultados significativos, apenas colaboram para que estas instituições aumentem suas arrecadações. Que sejam então aplicadas em ações concretas e não em mais e mais campanhas

Prof. Jarmuth Andrade disse...

Caro Germano,

Parabéns!
Nós acompanhamos há longa e conhecemos o trabalho do amigo, sua esposa e colaboradores!
Realmente vocês fazem a diferença!

Veja sua postagem, reproduzida no nosso Blog SOS Rios do Brasil!

http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2010/03/ra-bugio-uma-pequena-ong-que-faz.html

Saudações eco-fluviais!

Prof. Jarmuth Andrade

Mariza disse...

Olá, Germano e Elza.
É sempre bom ler suas argumentações, orientações e sugestões e ficar sabendo do que acontece por aí.
Parabéns mais uma vez pelo trabalho de vocês.
Abraços, paz e bem.
Mariza.
Petrópolis/RJ.