quinta-feira, 14 de abril de 2011

O prazer de encontrar na natureza uma ave ameaçada de extinção

PICA-PAU-DE-CARA-CANELA (Dryocopus galeatus), espécie ameaçada de extinção, fotografado na RPPN Corredeiras do Rio Itajai, em Itaiópolis (SC), dia 18/01/2011

Durante uma de nossas caminhadas pelas trilhas da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí , em Itaiópolis (SC), realizada no dia 18/01/2011, ouvimos a algazarra do PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA (Dryocopus lineatus), que é muito comum. Avistamos com freqüência este majestoso pica-pau até no centro de São José dos Campos (SP), visitando os galhos secos das sibipirunas (Caesalpinia peltophoroides) do estacionamento da rodoviária e no Parque Santos Dumont.

O que nos chamou atenção foi a presença de dois pica-paus jovens acompanhando o casal de PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA. Deduzimos naquele momento que se tratava de filhotes recebendo a educação dos pais para a sobrevivência durante os primeiros dias após deixarem o aconchego do ninho. Neste período, os pais costumam acompanhar os filhotes, complementando a alimentação deles até que aprendam a procurar comida e fiquem independentes.

Então, estávamos convencidos de que o único fato interessante foi observar estes “filhotes” e decidimos compartilhar a novidade com o ornitólogo Carlos Eduardo Zimmermann que também é professor da FURB, Fundação Universidade Regional de Blumenau, que prontamente nos livrou do engano com uma revelação surpreendente para nós: as imagens que registramos na RPPN tratavam-se, na verdade, de um casal de pica-paus adultos de uma espécie ameaçadíssima de extinção: PICA-PAU-DE-CARA-CANELA (Dryocopus galeatus)

Ficamos muito felizes de proteger esta área para as gerações futuras, transformando-a em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Certamente ainda vamos registrar outras espécies ameaçadas que estão refugiadas nestes 800 hectares de Mata Atlântica preservada. Clique aqui para ver as fotos que tiramos PICA-PAU-DE-CARA-CANELA (Dryocopus galeatus) Para ver todas as imagens do casal, entre na Galeria de Fotos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sacolas plásticas são mais ecológicas que retornáveis e de papel, diz estudo.

Para surpresa de muitos, um relatório da Agência do Meio Ambiente do governo britânico, divulgado pelo jornal "The Independent" no dia 27/02/2011, revelou que as sacolas plásticas de supermercado, que são fabricadas com polietileno de alta densidade (PEAD), causam menos impacto no meio ambiente do que sacos de papel ou sacolas retornáveis fabricadas com outras matérias-primas como tecido de algodão, conhecidas como “ecobags” ou sacolas ecológicas.

Veja os detalhes revelados por este estudo nesta matéria “Saco plástico causa menos danos que ecobags, diz relatório”, publicada em 01/03/2011 pelo jornal Folha de São Paulo.

Há quinze anos, escrevi um artigo para os jornais catarinenses condenando o abuso do consumo de sacolas plásticas nas compras de supermercado. Fui influenciado, em parte, pelo que observei nos supermercados dos EUA durante um período que fiquei lá, a serviço do Brasil.

Não fazia idéia do que viria pela frente, que tema serviria apenas para as pessoas ganharem dinheiro e para a prática do marketing enganoso de algumas empresas. Foi uma decepção muito grande.

Contudo, ao escrever o artigo, naquela época, eu tomei o cuidado de não propor a substituição por sacos de papel, por exemplo. Eu já havia percebido a irracionalidade desta proposta considerando a pressão que o setor industrial de papel e celulose exerce sobre os remanescentes de Mata Atlântica, aniquilando a biodiversidade, para plantar eucalipto, matéria prima na fabricação papel e, também, o trauma de infância de testemunhar a morte de um rio, que exalava um mau cheiro insuportável, devido ao lançamento de efluentes tóxicos de uma fábrica de papel.

As sacolas feitas com material oxibiodegradável, que erroneamente são chamadas de ecológicas, é a pior solução. São mais poluentes do que as sacolas plásticas comuns. Trata-se de um material plástico que apenas se quebra em minúsculos pedaços (continua sendo plástico), contaminando para sempre o meio ambiente de forma mais agressiva porque libera outras substâncias químicas perigosas à saúde humana. Além disso, este material quando enterrado não se desintegra tão facilmente. É IMPORTADO e custa mais caro do que o material plástico do qual são feitas as sacolas tradicionais, que é produzido no Brasil, por centenas de pequenas empresas que geram milhares de empregos. Estão fazendo lobby para vereadores de todo Brasil aprovarem leis municipais que obriguem os supermercados e pequenos comerciantes a comprarem sacolas plásticas feitas com este material oxibiodegradável (que é importado), mais caras do que as sacolas plásticas tradicionais, com a propaganda enganosa de que são ecológicas. E quem vai pagar a conta? O consumidor, é claro.

Outra matéria interessante sobre sacolas plásticas foi publicada no jornal norte-americano USATODAY, dia 16 de março de 2011, mostrando que as grandes redes de supermercados acabaram com os descontos como forma de estimular o uso das sacolas retornáveis após chegarem a conclusão que esta estratégia não funciona. Os comentários feitos pelos leitores norte-americanos foram tão interessantes e instigadores quanto à própria matéria. Um dos leitores, por exemplo, alerta que as sacolas retornáveis (“ecobags”) tornam-se anti-higiênicas, acumulam germes com pouco tempo de uso. E esta preocupação não é exagerada, principalmente aqui, no Brasil. Não é desprezível a chance de uma sacola retornável ser contaminada com a bactéria da leptospirose, por exemplo, que tem sido letal para muitas pessoas.

Nesta matéria do USATODAY dá para entender como surgem estas campanhas inúteis de ajudar o meio ambiente sem reduzir o consumo, isto é, sem fazer nada, sem nenhum sacrifício, que acabam prejudicando ainda mais o meio ambiente. Muitas vezes, não é por má fé que estas campanhas são inventadas por alguém, mas pela visão muito limitada sobre as questões ambientais, sobre os verdadeiros impactos de cada matéria prima, por exemplo. No entanto, infelizmente, para a natureza não faz diferença se o dano causado foi feito com boas intenções ou não.

Recomendo este vídeo do YouTube que de uma forma bem humorada diz tudo sobre as sacolas "ecológicas" (ecobags) ECOBAGS: Fui transformado em VERDE OTÁRIO - Made in Vietnã

Sacolas oxibiodegradáveis não são ecológicas

Entrevista na íntegra de Germano Woehl Junior para um jornal de Santa Catarina em 31/08/2011 sobre leis que vereadores estão aprovando para favorecer a utilização de sacolas com plástico oxibiodegradáveis


JORNALISTA - Qual sua opinião sobre esta lei aprovada em Guaramirim?
GERMANO - É uma lei absurda. Vai prejudicar ainda mais o meio ambiente e lesar o consumidor de Guaramirim que vai pagar a conta, porque as alternativas existentes são mais caras. Esta campanha contra as sacolas plásticas de supermercado são criticadas severamente por cientistas especialistas na área e ambientalistas do mundo inteiro. Surgiu na década de 80 nos Estado Unidos, a partir da campanha de marketing promovida por uma agência de publicidade, sem a preocupação de ter uma análise mais aprofundada de especialistas sobre este assunto.

JORNALISTA - Estas sacolas sugeridas, oxibiodegradáveis, são menos prejudiciais ao meio ambiente? Ou é o contrário?
GERMANO - As sacolas feitas com material oxibiodegradável não são ecológicas. Não é uma boa alternativa. Podem ser mais poluentes do que as sacolas plásticas comuns. Trata-se de um material plástico com um aditivo químico especial para se quebrar em minúsculos pedaços, que continuam sendo plástico, contaminando para sempre o meio ambiente, já que estes pedacinhos não poderão mais ser removidos tão facilmente de locais inapropriados. Além disso, este material quando enterrado não se desintegra tão facilmente. As sacolas plásticas comuns também se esfarelam quando ficam um certo tempo expostas ao sol.


JORNALISTA - Quais os prós e contras desta mudança?
GERMANO - O plástico do qual são feitas as sacolas comuns é um subproduto (resíduo) do refino do petróleo e vai para o meio ambiente de uma forma ou de outra. Portanto, não há nenhum ganho ambiental com a substituição. O plástico oxibibiodegradável é um material importado e custa mais caro que o material plástico do qual são feitas as sacolas comuns, que é produzido no Brasil, por centenas de pequenas empresas que geram milhares de empregos. Um estudo cientifico da agência de meio ambiente do governo britânico revelou que sacolas retornáveis, conhecidas como ecobags, feitas de qualquer tipo de material, incluindo tecido de algodão, também causam mais impacto ao meio ambiente do que as sacolas plásticas tradicionais, mesmo que usadas centenas de vezes. Pior: grandes redes de supermercado estão importando estas falsas sacolas “ecológicas” da China, provocando desemprego aqui, no Brasil.


JORNALISTA - Qual seria a melhor solução para acabar com o problema do lixo gerado pelas sacolas plásticas? É mesmo necessário extingui-las, na sua opinião?
GERMANO - O plástico está presente em quase tudo que usamos e descartamos. Não adianta nada se preocupar apenas com as sacolinhas de supermercado. Veja quanto plástico é usado para embalar os móveis, roupas, eletrodomésticos, produtos de supermercado como carne, leite, queijos, biscoitos, produtos de higiene etc. Além disso, as pessoas usam as sacolas plásticas para acondicionar o lixo orgânico. Quem se lembra da época quando só existiam sacolas de papel, deve lembrar também de uma cena comum, que hoje não vemos mais, de alimentos, cereais principalmente, derramados nas proximidades das saídas dos mercados, sobretudo nos dias chuvosos. O impacto ambiental para produzir um quilo de alimento (combustíveis e lubrificantes das máquinas agrícolas e transporte, fertilizantes, agrotóxicos, energia elétrica da secagem, armazenagem, moagem etc.) é muito maior do que o causado pelo descarte de milhares de sacolas plásticas em um aterro sanitário. E o prejuízo financeiro para o consumidor que teve a infelicidade do saco de papel arrebentar e perder o alimento que comprou? Uma embalagem feita de derivado de petróleo (plástico bolha, isopor etc.) causa impacto quando descartado, é claro. Mas os danos para o meio ambiente são muito maiores quando uma fruta ou um eletrodoméstico é perdido por ter sido mal acondicionado durante o transporte ou armazenagem. Há também a questão da boa higiene proporcionada pelos plásticos, que é uma solução barata de acondicionamento que garante alimentos seguros acessíveis para consumidores de todas as classes sociais.