quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Fotografado o GATO-MOURISCO muito raro na Mata Atlântica.

GATO-MOURISCO fotografado na manhã do dia 19/08/2013 pela câmera de trilha na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis, Santa Catarina. Clique sobre a imagem para ampliar.
Na manhã do dia 19/08/2013, às 08h13min, os sensores da câmera de trilha (Bushnell modelo 119440) detectaram na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), um raríssimo felino da Mata Atlântica:

GATO-MOURISCO ou JAGUARUNDI (Puma yagouaroundi)

Outros nomes populares: gato-preto, maracajá-preto

Sinônimos: 
Herpailurus yagouaroundi, Puma yaguarondi, Felis yagouaroundi

Ameaças
Estudos científicos recentes revelam que a espécie tornou-se muito rara e a destruição de hábitats é a principal causa de ameaça de extinção (Caso et al. 2008). A perda de habitats tem um impacto negativo sobre a sua probabilidade de ocorrência (Michalski & Peres 2005). Além disso, o pouco conhecimento sobre a biologia desta espécie limita a possibilidade de estratégias de conservação eficazes. É uma das espécies de felinos com maior deciência de dados, tanto relacionados com a biologia da espécie e padrão de distribuição geográfica, quanto com a sua atual situação de densidade populacional (Sunquist & Sunquist, 2002)

Mais informações sobre o GATO-MOURISCO estão neste link

Referências
Caso, A., Lopez-Gonzalez, C., Payan, E., Eizirik, E., de Oliveira, T., Leite-Pitman, R., Kelly, M., & Valderrama, C. (2008). Puma yagouaroundi. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2010.2.

Michalski, F., & Peres, C. A. (2005). Anthropogenic determinants of primate and carnivore local extinctions in a fragmented forest landscape of southern Amazonia. Biological Conservation, 124, 383-396.

Sunquist, M.; Sunquist, F. 2002. Wild Cats of the World. University of Chicago Press. 1st Editon.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A surpreendente biodiversidade da Mata Atlântica na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí

ARAÇARI-POCA (Selenidera maculirostris), ave da família dos tucanos (Ramphastidae) uma das riquezas da biodiversidade que encontramos pela primeira vez na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis, Santa Catarina. É uma fêmea. Clique sobre a imagem para ampliar
No dia 14/08/2013, Elza e eu vimos um tucaninho se alimentando dos frutos de um mandioqueiro ou pau-mandioca (Schefflera morototoni) árvore típica da Mata Atlântica na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis, Santa Catarina. Não me interessei muito em fotografá-lo porque estava distante e já tenho centenas de fotos do tucaninho (araçari-banana).

Logo que fiz as primeiras fotos (ver no link abaixo), percebi que tinha as cores diferentes do araçari-banana (Pteroglossus bailloni). Agora, fiquei surpreso ao descobrir que é outra espécie araçari.

Nome Popular: ARAÇARI POCA
Nome Científico: Selenidera maculirostris

A Elza sugeriu não levarmos o tripé naquele dia (para filmagens) porque iríamos até a pedreira ver o estrago na mata causado pela neve (16 quilômetros de caminhada - percurso ida e volta) - ficamos muito arrependidos por não termos feito um vídeo da cena. No entanto, fizemos várias fotos que podem ser vistas clicando neste link da página do ARAÇARI-POCA

É nossa ave de numero 240 encontrada na RPPN (tem muito mais) até esta data, 20/08/2013, sendo que temos agora 4 espécies de tucanos na RPPN (registrados por meio de fotos).



Percebam como é importante salvar estas matas preservadas. Compensa todo nosso esforço em salvá-las para as gerações futuras (o desmatamento é intenso na região). Quero ver encontrar toda esta riqueza de biodiversidade em uma mata secundária, em um plantio de mudas de árvores.
ARAÇARI-POCA (Selenidera maculirostris) se alimentando dos frutos de um pau-mandioca (Schefflera morototoni) na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis, Santa Catarina. Clique sobre a imagem para ampliar


Araçari-poca (Selenidera maculirostris) morto por caçadores presos pela Polícia Ambiental de Joinville

Esta imagem do ARAÇARI-POCA foi fornecida pela Polícia Ambiental de Joinville. Foi apreendido com quatro caçadores presos em flagrante no dia 15/06/2013. Eles estavam caçando na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra Dona Francisca, na Serra do Mar de Joinville e montaram um acampamento onde a Policia Ambiental os pegou em flagrante com outros animais silvestres abatidos, duas pacas e um quati. Eles portavam 3 espingardas e muita munição para armas de vários calibres (12, 20, 28 e 32), além de armadilhas (arapucas e canhãozinho) para capturar animais. Clique sobre a imagem para ampliar

domingo, 11 de agosto de 2013

Destruição da Mata Atlântica pela neve em Santa Catarina

Matas secundárias duramente atingidas pela nevasca em Santa Catarina. Local: RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC). Foto 09/08/2013. Clique sobre a imagem para ampliar
Nesta primeira semana de agosto de 2013 percorremos algumas partes da RPPN das Araucárias Gigantes e RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC),  para verificarmos e registrarmos os estragos na mata causados pela nevasca ocorrida na noite do dia 23/07/2013 (veja as fotos da neve na matéria Neve e chuva congelada arrasaram a Mata Atlântica em Santa Catarina)

A destruição foi maior do que imaginamos. É difícil quantificar a tragédia, mas pudemos constatar que as espécies de árvores pioneiras foram as mais duramente atingidas. Nos 4 quilômetros da trilha da pedreira, traçado de uma estrada abandonada, na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, constatamos que em torno de 20% das árvores pioneiras, (árvores moles de crescimento rápido, como vassourão e maria mole) tombaram e quase todas as remanescentes perderam parte dos galhos. Foram consumidas várias horas de motosserra para reabrir a trilha usada para fiscalização da RPPN.


É um impacto considerável nesta parte da RPPN haja vista esta área ao longo da trilha está em processo de regeneração, mas é colonizada por bambuzais (taquara-lixa, taquara-lambedora e carazeiro) que agora sem a competição por luz com as árvores aniquiladas pela neve vão ganhar força para sufocar ainda mais o restante da vegetação, impedindo a regeneração de novas árvores e arbustos e empobrecendo a biodiversidade. Muitas clareiras foram abertas.

O que mais nos entristeceu foi a destruição na mata primária da RPPN, nas áreas onde nunca houve extração de madeira. Encontramos várias clareiras abertas, com até meio hectare, causadas pela queda de árvores centenárias em efeito dominó. Observamos casos onde uma árvore gigantesca tombada na borda da chapada foi derrubando outras em efeito dominó até o fundo do vale do rio do couro, numa distância estimada superior a 300 metros. É normal encontrar uma ou outra árvore centenária caída no meio da floresta primária, afinal as árvores morrem um dia, mas não tantas ao mesmo tempo. 

Mata primária às margens do rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC). Foto 05/08/2013. Clique sobre a imagem para ampliar
Caminhamos cerca de 2 quilômetros (calculado com o Google Earth) pelo rio do Couro e contamos 16 árvores de grande porte tombadas sobre o rio ou nas margens. Não contabilizamos as centenas de árvores pequenas que também tombaram sobre o rio (veja nas imagens). Destas 16 árvores de grande porte que tombaram, 13 eram MARIA-PRETA (Diatenopteryx sorbifolia) , uma GUABIROBA (Campomanesia xanthocarpa), uma CANJARANA (Cabralea canjerana) e outra que não soubemos identificar. As consequências desta enorme quantidade de árvores tombadas sobre o rio do Couro serão graves quando ocorrerem chuvas fortes. Haverá represamento do rio em vários pontos e a formação de “cabeças d´água”, ou seja, as represas enchem e estouram em seguida arrebentando a mata ciliar.

Na parte da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí que fica mais próxima ao rio Itajaí não aconteceu praticamente nada, os impactos foram mínimos mesmo nos locais de matas secundárias (estágio avançado de regeneração, matas com 40 anos), como na RPPN Raso do Mandi. Ali, caiu neve também, mas foi de baixa intensidade, de acordo com as informações dos agricultores.

Em uma floresta tropical, como a Mata Atlântica, é difícil quantificar o impacto pelo número de árvores tombadas ou galhos quebrados, por exemplo. Os estragos que verificamos na mata primária são parecidos com aqueles provocados pela extração de madeira (o abate de uma árvore derruba várias outras no entorno) e pode levar no mínimo 300 anos para a floresta ficar como estava no dia anterior da nevasca, 23/07/2013, que é o tempo necessário para as árvores atingirem o porte das que foram derrubadas e cumprirem a mesma função ecológica, caso as clareiras abertas não sejam colonizadas pelos taquarais (bambuzais) e pela uva-do-japão ou pé-de-galinha (Hovenia dulcis). No caso das matas secundárias atingidas, caso seja possível a regeneração, este tempo deverá ser de 40 ou 50 anos.

Na visita feita em vários pontos dos 860 hectares das RPPNs pode-se concluir que na mata primária os danos foram pequenos e nas matas secundárias (que foram desmatadas nos últimos 50 anos e se regeneraram espontaneamente) os danos foram consideráveis. Os dois vendavais fortes que ocorreram nos últimos anos também causaram danos mínimos nas matas primárias e danificaram bastante as matas secundárias.

Percebe-se, então, que as matas secundárias são mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos e estão condenadas a permanecerem eternamente em estágio médio de regeneração se estes eventos tornarem-se frequentes. Consequentemente todo o esforço da sociedade brasileira deve ser empreendido para salvar as matas primárias do desmatamento que concentram uma grande riqueza de biodiversidade e, aparentemente, são imunes aos eventos climáticos extremos.
 

Destruição no rio Couro (Clique sobre as imagens para ampliar)

Centenas de árvores de pequeno porte tombaram sobre o rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar








GUABIROBA (Campomanesia xanthocarpa) que tombou às margens do rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar







Árvore centenária que tombou sobre o rio do Couro ao lado de uma caverna na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar


Efeito dominó: A árvore da borda da chapada tombou e foi derrubando as outra até o fundo do vale do rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Clique sobre a imagem para ampliar

Destruição na trilha da Pedreira (Clique sobre as imagens para ampliar)







A maioria das árvores pioneiras teve parte dos galhos quebrados devido ao peso da neve acumulada. Clique sobre a imagem para ampliar
Estrada da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí ficou obstruída pelas várias árvores que tombaram devido ao peso da neve. Clique sobre a imagem para ampliar


Destruição na RPPN das Araucárias Gigantes (Clique sobre as imagens para ampliar)


Restou apenas o tronco de uma árvore de grande porte na RPPN das Araucárias Gigantes. Clique sobre a imagem para ampliar

Gigantesco exemplar de ARAÇA-PITANGA que teve o tronco quebrado devido ao peso da neve na RPPN das Araucárias Gigantes. Clique sobre a imagem para ampliar

Vista da paisagem de uma área da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí revela a destruição
Vista de uma área da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí onde no início dos anos 80 ocorreu extração de madeira permite estimar o dano provocado pela nevasca. As imagens abaixo mostram alguns detalhes da destruição Clique sobre a imagem para ampliar