sábado, 10 de setembro de 2011

Por que tantas enchentes em Blumenau?

Deslizamento de grandes proporções ocorrido em 1983 (grande enchente em Blumenau) nas encontas do rio do Couro, onde foi criada a RPPN Taipa Rio do Couro, que faz divisa com outra RPPN que criamos, Corredeiras do Rio Itajai. (clique sobre a imagem para ampliar)

A área da bacia hidrográfica do rio Itajaí é de 15.000 km2 e abrange 47 municípios catarinenses. Em linha reta, a nascente fica a 160 km de distância, em Papanduva (SC). Toda a água drenada nesta imensa área da bacia hidrográfica passa por Blumenau e Itajaí um pouco antes de ser despejada no Oceano Atlântico. Portanto, devido à localização e a imensa área da bacia hidrográfica situada em uma região com elevado índice pluviométrico qualquer chuva forte causa problemas nestas cidades.

São comuns fotos antigas mostrando inundações em Blumenau. No álbum da minha família tem várias destas fotos amareladas, de um período na década de 50 que meu irmão mais velho morou na cidade para estudar. Não é por acaso que desde sua fundação, em 1852, Blumenau já teve 70 enchentes registradas. Uma enchente a cada 2 anos e 3 meses. Há relatos que um ano após a fundação o vilarejo formado pelos primeiros colonizadores já sofreu uma inundação.

Deslizamentos nas cabeceiras do rio Itajai, na RPPN Refúgio do Macuco, ocorridos em set/2o11. Consequência do desmatamento na borda da chapada realizado em 2005. Repare que o infrator continua desmatando. Foto 17/09/2011.


Deslizamento ocorrido nas cabeceiras do rio Itajaí, em frente da RPPN Corredeiras do Rio Itajai. Foto 16/09/2011

Nos últimos anos tem aumentada consideravelmente a pressão para destruir o que resta de mata ciliar preservada, sobretudo nas cabeceiras do rio Itajaí. Isto significa que deve agravar muito o problema das enchentes em Blumenau nos próximos anos. As matas preservadas prestam um serviço ambiental de reter a água das chuvas e liberá-la aos poucos para os rios. Sem as matas, as águas das grandes enxurradas escoam instantaneamente para os rios provocando as enchentes. Com esta devastação toda que está ocorrendo, a situação de quem vive em Blumenau e Itajaí fica a cada dia mais dramática.

Deslizamentos nas cabeceiras do rio Itajaí, em frente da RPPN Corredeiras do Rio Itajai. O deslizamento da esquerda foi consequencia de uma estrada construida recentemente por caçadores para caçar no entorno da RPPN. Foto 16/09/2011

Diante de tanta destruição nós decidimos salvar uma área da bacia hidrográfica do rio Itajaí que concentra uma grande quantidade de rios e nascentes, ou seja, estamos salvando concretamente dezenas de quilômetros de matas ciliares e uma riquíssima biodiversidade. Com muito esforço, usando nossas economias, já conseguimos salvar 860 hectares, que foram comprados pedacinho por pedacinho. Deste total, 215 hectares foram comprados pelo Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade com dinheiro de doadores, que sensibilizaram com a nossa luta. Quase toda a área já foi transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) , situação onde nunca mais poderá ser desmatada.

Deslizamento ocorrido nas cabeceiras do rio Itajaí, em frente da RPPN Corredeiras do Rio Itajai. O local foi desmatado em outubro de 2010. Foto 16/09/2011

Estas poucas matas preservadas que restam e que lutamos para salvar também são castigadas toda a vez que chove muito. Sofrem os efeitos das degradações causadas no entorno, como a ocupação irregular das bordas dos penhascos (chapadas). A cada chuva forte ocorre um deslizamento de grandes proporções. Toda a vegetação e detritos vão parar no rio, represando suas águas até encher rapidamente e estourar, formando uma cabeça d’água (com vários metros de altura), com um poder de destruição semelhante a um tsunami avassalador, que causa uma grande devastação nas margens, arrancado árvores centenárias e destruindo os barrancos.

Destruição provocada por uma cabeça d'água que se formou devido ao represamento - e rompimento em seguida - do rio do Couro pelo desmoronamento da encosta. Este local fica na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis (SC) Foto: 22/01/2010.

Somente no entorno da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, a 140 km de Blumenau, com as chuvas intensas dos últimos anos já ocorreram sete deslizamentos de grandes extensões que represaram o rio do Couro, afluente do rio Itajaí do Norte, que atravessa a RPPN. Veja as imagens. É triste de ver o cenário de destruição que a cabeça d’água provoca nas margens, desestabilizando os barrancos que passam a desmoronar com freqüência, derrubando mais árvores raras e centenárias e assoreando os rios.

Árvore caída sobre o rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajai, devido a desestabilização do barranco causada pela erosão da cabeça d'água (liberação da água represada pelos detritos do desmoranamento)

O futuro de Blumenau e Itajaí vai depender dos resultados de nossos esforços de salvar o que resta das matas que protegem as cabeceiras do rio Itajaí. Uma luta que começou no início dos anos 70, quando era adolescente e tentava impedir o desmatamento das margens do rio Itajaí denunciando inutilmente para as autoridades em Brasília, mas não desisti. Nos últimos anos, finalmente, começamos a virar o jogo em Itaiópolis e municípios vizinhos, quando as promotorias (Ministério Público) e Poder Judiciário das comarcas destes municípios começaram a exigir o cumprimento das leis ambientais. Só em Itaiópolis (SC), pelo menos 300 infratores foram multados e processados por crime de desmatamento, a maioria na bacia hidrográfica do rio Itajaí. Claro que o trabalho da fiscalização do IBAMA-SC e Polícia Ambiental de Santa Catarina foi também de fundamental importância.

A pressão para destruir o que resta da mata ciliar do rio Itajaí fica cada vez mais forte e a área a ser fiscalizada é muito extensa o que exige um grande investimento do poder público em infraestrutura de pessoal e de equipamentos para fortalecer os órgãos de fiscalização, como Polícia Ambiental, para que se consiga dar uma proteção adequada à matas preservadas remanescentes do rio Itajaí. O que podemos garantir por enquanto são os 860 hectares que compramos e já transformamos quase tudo em RPPN.

3 comentários:

resgato disse...

Nós vamos protestar a vida toda, nossos gritos vão passar as outras gerações e a elite dominante vai continuar desmatando até não restar nem um tufo de capim.

aguaecidade disse...

Caro Germano,
Não sou da região, mas venho da Mata Atlântica, em MG. Pergunto-lhe e pergunto a quem quiser debater o tema: se são tantas as enchentes, porque até hoje não houve um planejamento urbano para ir mudando a cidade pouco a pouco para outro lugar? Decretando uso não conforme na área inundável, a cada destruição, constroem-se conjuntos habitacionais, novos edifícios, novos bairros em áreas acima da cota de inundação. Aos pouco, a área inundável vai virando mata ciliar, vai virando área úmida, vai virando área de lazer para a população.
Estamos todos comovidos com o que está acontecendo e somos solidários.
saudações cordiais,
Maria do Carmo Zinato
www.twitter.com/aguaecidade

Marlene Koch disse...

Observando o comentário de "aguadacidade" daí fico pensando e... caiu no caos de outros países... dois exemplos: Japão com seus terremotos, EUA com seus tornados, daí.. a cada catástrofe o povo se reergue tal qual as formigas fazem. Os que desanimam se mudam para outros locais e por vezes enfrentam caos diferentes. Resumindo: -Não se tem como fugir das leis naturais. Só resta uma opção -Respeitar a obra divina e parar de destruir tanto a natureza. Haveria muito menos caos se o progresso não fosse um regresso. O planeta foi criado da forma correta para se sustentar. O animal homem é um verdadeiro pecado. Deus criou o homem e depois entrou em depressão.