quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Cavernas do Texas e Bolsa Família para Conservação da Natureza

Estávamos muito ansiosos para conhecer a infraestrutura de uma unidade de conservação estadual nos Estados Unidos porque só tínhamos visitados os famosos parques federais, que são impecáveis. Mais especificamente, nosso desejo era saber como são os parques estaduais do Texas, um estado que não está na lista dos mais “verdes” dos Estados Unidos.

O Texas tem 55 parques estaduais. Para nossa estréia escolhemos um com cavernas, o Longhorn Cavern State Park, no condado de Burnet, a 350 km de Houston, que nos surpreendeu. O que vimos lá foi muito além das nossas expectativas. Nesta mesma viagem visitamos outros dois parques estaduais e dois refúgios de vida selvagem na mesma região, que também achamos espetaculares e surpreendentes. Ficamos hospedados em Marble Falls, uma cidade pequena e muito rica que tem sua economia baseada no ecoturismo e aposentados.

A história do parque estadual Longhorn Cavern State Park começou em 1932, quando o governo do Texas, comprou de um fazendeiro toda a área da caverna e o entorno visando garantir sua preservação para as gerações futuras. O fazendeiro relutou em vender a caverna para o governo do Texas. Mas concordou após o governo aceitar a condição de que a exploração comercial da caverna ficaria nas mãos de uma concessionária (e não do governo). O acordo é mantido até hoje e, por isso, o Longhorn Cavern é o único parque estadual do Texas administrado por uma concessionária. O nome “longhorn” veio do nome da fazenda de criação de gado, que significa chifres longos (uma raça de gado).

A extensão da caverna aberta aos visitantes é de 1.200 metros. Ou seja, o visitante percorre 1.200 metros por baixo da terra e retorna pelo mesmo percurso. A temperatura de 20 oC é constante ano inteiro. Há muitas partes da caverna onde não é permitida a visitação e tem uma parte com passagens estreitas, onde é necessário rastejar, entrar em câmaras inundadas etc. que pode ser visitada com agendamento prévio e dispor de equipamentos de segurança.

A visita no interior da caverna dura 1h30min e só pode ser feita com um guia. São 7 grupos por dia. Nós estávamos no primeiro grupo e o nosso guia foi um professor universitário aposentado. O cuidado é muito grande. Não pode tocar em nada dentro da caverna, porque pode contaminar e interromper o processo lento de crescimento de algumas formações geológicas. É também proibido fotografar com flash.

A caverna é iluminada com lâmpadas especiais em algumas partes, com uma luz tênue (spots dirigidos para as formações geológicas). E esta iluminação é por trechos, que é acionada somente no momento da visita e apagada logo em seguida. O guia acende as luzes de um trecho a frente, explica o que tem de interessante neste trecho e ao avançar para o trecho seguinte apaga a luz deste trecho que ficou para trás.

Tem uma parte da caverna, cerca de 10 metros de extensão, onde as paredes são revestidas de cristais de calcita enormes (10x10 cm aproximadamente). O guia também nos mostrou uma espécie de morcego bem pequeno que vive somente dentro da caverna. O último ato de vandalismo na caverna ocorreu em 1911, bem antes da criação do parque. Um sujeito gravou na rocha esta data com seu nome e da namorada. Uma pesquisa revelou que ela se casou com outro cara.

O parque tem outros atrativos como trilhas para caminhadas e uma bela área para piquenique, que é padrão para todos os parques. Os banheiros são impecáveis, bem limpos, a mesma constatação que fizemos em outros dois parques que visitamos. As áreas de estacionamento são amplas e nunca faltam vagas. Os animais silvestres são facilmente encontrados. O que chama atenção são as extensas áreas do entorno preservadas, de fazendas e chácaras. Percebe-se que estas áreas particulares preservadas são maiores do que a dos próprios parques.


CCC: Programa Bolsa-família criado em 1933 para conservação da natureza

Em 1933, assim que tomou posse para um novo mandato, o Presidente Franklin D. Roosevelt (filho do Presidente
Theodore "Teddy" Roosevelt, que durante seu mandato, entre 1901 e 1909 deu prioridade para a conservação da natureza) lançou um audacioso programa social para combater o desemprego e a miséria nos Estados Unidos que enfrentava naquele período uma grave crise econômica. Não havia empregos e as famílias estavam passando fome. Foi o período conhecido como grande depressão (Great Depression).

Um dos propósitos do programa social do Presidente Roosevelt era o mesmo do nosso Bolsa Família, combater a miséria. No entanto, utilizando menos recursos, o programa criado por Roosevelt foi muito além disso,
foi genial. Obteve resultados práticos e consistentes com um considerável retorno para a sociedade norte-americana, contribuindo significativamente para o desenvolvimento dos Estados Unidos.

O programa social do Presidente Roosevelt, denominado de Civilian Conservation Corps (CCC), consistiu em dar emprego para os jovens desempregados e não simplesmente dar dinheiro. Os jovens, entre 18 e 23 anos, foram contratados em uma frente de trabalho para atuarem na conservação da natureza, ou seja, montar infraestrutura necessária para desenvolver o ecoturismo em parques federais, estaduais e municipais, e também em obras para combater a erosão e as evitar as enchentes.

Os jovens eram contratados por um período mínimo de 6 meses que poderia ser prorrogado por até 2 anos. Recebiam um salário de 30 dólares por mês, um bom salário na época, mas eram descontados 25 dólares do contracheque para enviar diretamente às suas famílias. Então, o jovem trabalhador do CCC ficava com apenas 5 dólares.

O programa CCC funcionou durante 9 anos, de 1933 a 1942, e durante este período beneficiou 3 milhões de jovens que construíram a infraestrutura completa de 800 parques em todos os Estados Unidos, o que não é pouca coisa. É importante notar que já se passaram mais de 80 anos e esta obra maravilhosa é utilizada até hoje. Em 1942, o congresso norte-americano decidiu acabar com o programa porque os deputados entenderam que a situação econômica dos Estados Unidos tinha melhorado e não fazia mais sentido mantê-lo.

O Longhorn Cavern State Park foi um dos 800 parques beneficiados pelo programa do CCC e pudemos testemunhar o maravilhoso trabalho que estes jovens do CCC fizeram. Eles removeram as toneladas de rochas do chão da caverna para nivelar a trilha (onde construíram uma calçada cimentada) fizeram as conexões entre alguns dos salões (alargaram as passagens estreitas) e executaram um projeto de iluminação para viabilizar a visitação. Fora da caverna construíram a sede do parque, uma belíssima casa de pedras (veja as fotos), uma torre de observação, implantaram as trilhas e a área para piquenique.

Uma das marcas registradas das obras construídas pelo CCC são as casas de pedra, cujos projetos arquitetônicos foram feitos por dois arquitetos famosos na época, Samuel C. P. Vosper and George Walling. A idéia era sempre utilizar material (pedras, madeira etc.) disponível na própria região.

















Entrada da caverna
Enormes cristais de CALCITA que revestem o teto e as paredes da caverna ao longo de um trecho com 10 metros de extensão
Enormes cristais de CALCITA que revestem o teto e as paredes da caverna ao longo de um trecho com 10 metros de extensão
 












Elza com o guia da caverna, um professor universitário aposentado

Casa de pedra construido pelo Civilian Conservation Corps (CCC)













Organograma sobre a estrutura do Civilian Conservation Corps (CCC) feito pelo Presidente Franklin D. Roosevelt. O nome no topo é de Robert Fechner, que foi o diretor do CCC.

Elza experimentando a trilha do Longhorn Cavern State Park




Elza desfrutando da area de piquenique do Longhorn Cavern State Park
 


Pia da torre de obervação construida pelo Civilian Conservation Corps (CCC)
 



Carro que alugamos para visitar o Longhorn Cavern State Park, a 350 km de distância de Houston

Placa do carro que alugamos para visitar o Longhorn Cavern State Park, a 350 km de distância de Houston

 

Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade
Jaraguá do Sul, Santa Catarina
http://www.ra-bugio.org.br/

 

Aquisição de áreas preservadas de Mata Atlântica e criação de reservas (RPPN)
http://www.ra-bugio.org.br/areasprotegidas.php?id=13

 

Conheça o Centro Interpretativo da Mata Atlântica – Jaraguá do Sul
http://www.ra-bugio.org.br/sede-ra-bugio.php

 

Acompanhe nosso Projeto de Educação Ambiental nas escolas para salvar a MATA ATLÂNTICA
http://www.ra-bugio.org.br/educacaoambiental.php

Blog
http://ra-bugio.blogspot.com/


e também na nossa página no FACEBOOK
http://www.facebook.com/pages/Ra-bugio-Salve-a-Natureza/139773049407363



2 comentários:

Mariza disse...

Super bacana! Super, super! Primeiro mundo é isso, enquanto ali preservam, aqui óoo... Parabéns Germano e Elza pela oportunidade de estarem conhecendo trabalhos e organizações exemplares!
Abraços.

Parques e Áreas Protegidas disse...

Oi Germano. Aqui no Brasil estive no PETAR em São Paulo. As visitas nas cavernas funcionam muito bem, igual no Texas. E o Parque da Caverna do Diabo também em São Paulo é show. Roosevelt deu sorte porque lá não tem esta burocracia de cartório, Tribunal de Contas, excesso de leis.... Grande Abraço