sexta-feira, 27 de maio de 2011

Contato com a natureza melhora a concentração das crianças nos estudos e ajuda na terapia da hiperatividade

Estudantes de uma escola pública de Navegantes (SC) interagindo com a natureza nas trilhas interpretativas da RPPN Santuário Rã-bugio, em Guaramirim (SC). Clique sobre a imagem para ampliar.


Uma pequena “dose de natureza” melhora a concentração das crianças nos estudos e ajuda no tratamento da hiperatividade

A importância do nosso projeto de educação ambiental em trilhas interpretativas de matas preservadas para interação das crianças e adolescentes com a natureza, que já atendeu nas trilhas da Mata Atlântica 50 mil estudantes das escolas públicas nos últimos 10 anos. Conheça os projetos em andamento acessando este link

Estudos realizados nos Estados Unidos por cientistas da Universidade de Illinois, publicados em 2008, revelaram que apenas 20 minutos de atividades em trilhas interpretativas (“uma pequena dose de natureza”) já é suficiente para melhorar a concentração das crianças nos estudos. Sugerem que o contato com a natureza pode ser útil como uma terapia complementar ou preventiva para crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Neste trabalho os cientistas dizem que os efeitos da pequena "DOSE DE NATUREZA" (20 minutos de contato com a natureza) foram semelhantes aos obtidos com doses ministradas do medicamento a base de metilfenidado (methylphenidate) para tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Segue abaixo a tradução do resumo do artigo.

Crianças com déficit de atenção concentram-se melhor após a caminhada no parque

Andrea Faber Taylor
Frances E. Kuo
University of Illinois, Urbana-Champaign

Objetivo: Na população em geral, a atenção é comprovadamente reforçada após a exposição a certos ambientes físicos, particularmente ambientes naturais. Este estudo analisou os impactos dos ambientes sobre a atenção em crianças com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Método: Neste dentro do projeto de disciplinas, cada participante experimentou cada um dos três tratamentos (ambientes) em um único ensaio clínico controlado. Dezessete crianças 7 a 12 anos com diagnóstico de TDAH experimentaram cada uma os três ambientes de um parque da cidade e outros dois em centros urbanos, através de passeios individuais guiados de 20 minutos. Ambientes foram experimentados em intervalos de 1 semana, com a atribuição ao acaso para a ordem de tratamento. Depois de cada passeio, a concentração foi medida usando um teste de memorização regressiva de números (Digit Span Backwards.) Resultados: As crianças com TDAH se concentraram melhor depois do passeio no parque do que após a caminhar no centro da cidade (p = 0,0229) ou no bairro (p = 0,0072). Os efeitos foram significativos (Cohen d =. 52 e 0,77, respectivamente) e semelhantes aos relatados para as formulações recentes do medicamento metilfenidato.

Conclusão: Em apenas vinte minutos em de caminhadas nas trilhas de um parque foi suficiente para elevar o desempenho da atenção em relação ao mesmo período de tempo em outros ambientes. Estes resultados indicam que os ambientes naturais podem realçar a atenção não só na população geral, mas também nas populações de TDAH. "Doses de natureza” podem ser utilizadas como um método seguro, barato e amplamente acessível para tratar dos sintomas de TDAH

Crianças nas atividades interativas com a natureza nas trilhas da RPPN Santuário Rã-bugio, em Guaramirim (SC), monitoradas por Elza Nishimura Woehl



Children With Attention Deficits Concentrate Better After Walk in the Park

Journal of Attention Disorders OnlineFirst, published on August 25, 2008 as doi:10.1177/1087054708323000

Andrea Faber Taylor

Frances E. Kuo
University of Illinois, Urbana-Champaign


Objective: In the general population, attention is reliably enhanced after exposure to certain physical environments, particularly natural environments. This study examined the impacts of environments on attention in children with ADHD.

Method: In this within subjects design, each participant experienced each of three treatments (environments) in single blind controlled trials. Seventeen children 7 to12 years old professionally diagnosed with ADHD experienced each of three environments—a city park and two other well-kept urban settings—via individually guided 20-minute walks. Environments were experienced 1 week apart, with randomized assignment to treatment order. After each walk, concentration was measured using Digit Span Backwards. Results: Children with ADHD concentrated better after the walk in the park than after the downtown walk (p= 0.0229) or the neighborhood walk (p = 0.0072). Effect sizes were substantial (Cohen’s d = 0.52 and 0.77, respectively) and comparable to those reported for recent formulations of methylphenidate.

Conclusion: Twenty minutes in a park setting was sufficient to elevate attention performance relative to the same amount of time in other settings. These findings indicate that environments can enhance attention not only in the general population but also in ADHD populations. “Doses of nature” might serve as a safe, inexpensive, widely accessible new tool in the tool kit for managing ADHD symptoms. (Journal of Attention Disorders, v12 n5 p402-409, 2009)


Keywords: children; attention; physical environment; symptom management

Andrea Faber Taylor is a postdoctoral research scientist
studying children’s environments and behavior in the
Department of Natural Resources and Environmental Sciences
at the University of Illinois, Urbana-Champaign.

Frances E. Kuo is an associate professor in the Department of
Natural Resources and Environmental Sciences, and the
Department of Psychology at University of Illinois, Urbana-
Champaign.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Transtorno da falta de contato com a natureza

Projeto de Educação Ambiental do Instituto Rã-bugio: Elza com estudantes nas atividades ao ar livre na trilha do Centro Interpretativo da Mata Atlântica, em Jaraguá do Sul (SC)


Transtorno da falta de contato com a Natureza (Nature Deficit Disorder), é um termo criado pelo escritor e jornalista norte-americano Richard Louv em seu livro de 2005, Last Child in the Woods (Tradução: A Última Criança nas Florestas). Refere-se à alegada tendência de as crianças terem cada vez menos contato com a natureza, resultando em uma ampla gama de problemas de comportamento. Esta doença não é ainda reconhecida em qualquer um dos manuais de medicina de transtornos mentais, como o CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) ou o DSM-IV (Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais) nem é parte da proposta de revisão deste manual

Louv alega que as causas para o fenômeno incluem o medo dos pais, acesso restrito às áreas naturais, e da atração pela TV ou computador. A pesquisa recente tem gerado um contraste maior entre a diminuição do número de visitas aos Parques Nacionais nos Estados Unidos e aumento do consumo de meios eletrônicos por crianças.

Richard Louv passou 10 anos viajando pelos EUA entrevistando e conversando com pais e filhos, tanto em áreas rurais e urbanas, sobre suas experiências na natureza. Ele argumenta que a cobertura da mídia sensacionalista e os pais paranóicos têm assustado as crianças de freqüentarem áreas naturais (matas, campos...), enquanto promove uma litigiosa cultura do medo que favorece a prática de esportes seguros com regras ao invés de brincadeiras criativas.

Ao reconhecer essas tendências, algumas pessoas argumentam que os seres humanos têm um gosto instintivo para a natureza, a hipótese da biofilia, e adotam certas medidas para passar mais tempo ao ar livre, por exemplo, em educação ao ar livre, ou através do envio de crianças a jardins da infância (Forest Kindergarden) ou escolas (Forest Schools) na floresta, que são escolas especiais criadas nos Estados Unidos e países da Europa, onde as crianças ou estudantes brincam e aprendem do meio de uma mata preservada ou bosque utilizando os elementos que encontram na nestes ambientes. Talvez seja uma coincidência que os adeptos do movimento Slow Parenting (pais sem pressa)* enviam suas crianças para educação em ambientes naturais, ao invés de mantê-los dentro de casa, como parte de um estilo livre de educar os filhos

*O movimento Slow Parenting (pais sem pressa) defende que “menos é mais”: menos coisas, menos actividades, menos pressa, menos pressão, menos expectativas. Mais tempo para crescer fará as crianças mais felizes. É um estilo de educação dos pais em que poucas atividades são organizadas para as crianças. Em vez disso, elas são autorizadas a explorar o mundo ao seu próprio ritmo. O movimento Slow Parenting tem o objetivo de permitir que as crianças sejam felizes e fiquem satisfeitas com suas próprias realizações, mesmo que isto não pode torná-las mais ricas ou mais famosas. Os pais das crianças de hoje são frequentemente encorajados a repassar o melhor possível de suas experiências de infância, para garantir a estas crianças o sucesso e felicidade na vida adulta.

A natureza não é apenas para ser encontrado em parques nacionais. O capítulo "Jardim do Eden em um terreno baldio", de Robert M. Pyle (página 305)* enfatiza a possibilidade de exploração e fascínio em pequenas áreas que podem ser lotes desocupados de terrenos com vegetação nativa, e se alegra com as 30.000 lotes sem construção em Detroit, que surgem devido à decadência no centro da cidade.

*Children and Nature: Psychological, Sociocultural, and Evolutionary Investigations (2002). Eds. P. Kahn; S. Kellert. MIT Press. Essay "Eden in a vacant lot: special places, species, and kids in the neighborhood of life"


Causas

Os pais estão mantendo as crianças dentro de casa, a fim de mantê-los a salvo de perigo. Richard Louv acredita que podemos estar protegendo exageradamente as crianças de tal forma que se tornou um problema e prejudica a capacidade da criança de manter contato com a natureza. O crescente temor dos pais de "perigo desconhecido", que é fortemente alimentada pelos meios de comunicação mantém as crianças dentro de casa e no computador ao invés de explorar ao ar livre. Louv acredita que esta pode ser a causa principal de transtorno da falta de contato com a natureza, uma vez que os pais têm um forte controle e influência sobre a vida de seus filhos.

Perda de paisagem natural no bairro ou cidade de uma criança. Muitos parques e reservas naturais têm acesso restrito e placas de advertência "não ande fora da trilha". Ambientalistas e educadores ainda adicionam a restrição ao dizerem às crianças "olhe, mas não toque". Enquanto eles estão protegendo o ambiente natural, Louv questiona o custo dessa proteção na relação as nossas crianças com a natureza

Aumento de atrativos para passar mais tempo dentro de casa. Com o advento do computador, videogames e televisão as crianças têm mais e mais motivos para ficar dentro de casa, "A criança norte-americana gasta em média gasta 44 horas por semana com mídias eletrônicas"

Efeitos

As crianças têm limitado respeito ao ambiente natural mais próximo. Louv diz que os efeitos do transtorno da falta de contato com a natureza para os nossos filhos será um problema ainda maior no futuro. "Um ritmo crescente nas últimas três décadas, aproximadamente, de uma rápida perda de contado das crianças com a natureza tem profundas implicações, não só para a saúde das gerações futuras, mas para a saúde da própria Terra." Os efeitos transtorno da falta de contato com a natureza poderia levar a primeira geração em risco de ter uma expectativa de vida menor do que seus pais.

Podem se desenvolver transtornos da atenção e depressão. "É um problema porque as crianças que não tiveram um contato com a natureza parecem mais propensas à depressão, ansiedade e problemas da falta de atenção". Louv sugere que ter atividade ao ar livre em contato com a natureza e ficar na calma e tranquilidade pode ajudar muito. De acordo com um estudo da Universidade de Illinois, a interação com a natureza tem provado reduzir os sintomas dos transtornos da atenção e depressão em crianças. Segundo a pesquisa, "No geral, nossos resultados indicam que a exposição a ambientes naturais nas atividades comuns após as aulas ou finais de semana pode ser muito eficaz na redução dos sintomas de déficit de atenção em crianças." A teoria da restauração da atenção desenvolve esta idéia , tanto na recuperação a curto prazo de suas habilidades, como na de longo prazo para lidar com o stress e adversidades.

Seguindo o desenvolvimento dos transtornos da atenção e depressão e transtornos de humor, notas mais baixas na escola também parecem estar relacionados com o transtorno da falta de contato com a natureza. Louv afirma que estudos realizados na Califórnia e na maior parte dos Estados Unidos mostram que os estudantes das escolas que utilizam as salas de aula ao ar livre e outras formas de educação utilizando experiências com a natureza apresentaram significativamente melhor desempenho em estudos sociais, ciências, artes, linguagem e matemática. Fonte: Artigo Orion Magazine March/April 2007

A obesidade infantil tem se tornado um problema crescente. Cerca de 9 milhões de crianças (6-11 anos) estão com sobrepeso ou obesos. O Instituto de Medicina afirma que nos últimos 30 anos, a obesidade infantil mais do que duplicou para os adolescentes e mais do que triplicou para crianças de 6-11 anos. Fonte: National Environmental Education Foundation

• Em uma entrevista publicada na revista Public School Insight, Louv citou alguns efeitos positivos do tratamento de transtorno da falta de contato com a natureza: “Tudo a partir de um efeito positivo sobre a atenção estendendo para redução do stress a criatividade, o desenvolvimento cognitivo e seu sentimento de admiração e de conexão com a Terra. "

A ONG No Child Left Inside Coalition (Coalizão “Não deixe as crianças dentro de casa") trabalha para levar as crianças para atividades ao ar livre e de aprendizagem ativa. A ONG espera resolver o problema do transtorno da falta de contato com a natureza. Eles agora estão trabalhando para aprovar uma lei nos Estados Unidos que aumentaria a educação ambiental nas escolas. A ONG defende que o problema do transtorno da falta de contato com a natureza poderia ser amenizado por "despertando o interesse do estudante para atividades ao ar livre" e estimulando-os a explorar o mundo natural por conta própria.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O prazer de encontrar na natureza uma ave ameaçada de extinção

PICA-PAU-DE-CARA-CANELA (Dryocopus galeatus), espécie ameaçada de extinção, fotografado na RPPN Corredeiras do Rio Itajai, em Itaiópolis (SC), dia 18/01/2011

Durante uma de nossas caminhadas pelas trilhas da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí , em Itaiópolis (SC), realizada no dia 18/01/2011, ouvimos a algazarra do PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA (Dryocopus lineatus), que é muito comum. Avistamos com freqüência este majestoso pica-pau até no centro de São José dos Campos (SP), visitando os galhos secos das sibipirunas (Caesalpinia peltophoroides) do estacionamento da rodoviária e no Parque Santos Dumont.

O que nos chamou atenção foi a presença de dois pica-paus jovens acompanhando o casal de PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA. Deduzimos naquele momento que se tratava de filhotes recebendo a educação dos pais para a sobrevivência durante os primeiros dias após deixarem o aconchego do ninho. Neste período, os pais costumam acompanhar os filhotes, complementando a alimentação deles até que aprendam a procurar comida e fiquem independentes.

Então, estávamos convencidos de que o único fato interessante foi observar estes “filhotes” e decidimos compartilhar a novidade com o ornitólogo Carlos Eduardo Zimmermann que também é professor da FURB, Fundação Universidade Regional de Blumenau, que prontamente nos livrou do engano com uma revelação surpreendente para nós: as imagens que registramos na RPPN tratavam-se, na verdade, de um casal de pica-paus adultos de uma espécie ameaçadíssima de extinção: PICA-PAU-DE-CARA-CANELA (Dryocopus galeatus)

Ficamos muito felizes de proteger esta área para as gerações futuras, transformando-a em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Certamente ainda vamos registrar outras espécies ameaçadas que estão refugiadas nestes 800 hectares de Mata Atlântica preservada. Clique aqui para ver as fotos que tiramos PICA-PAU-DE-CARA-CANELA (Dryocopus galeatus) Para ver todas as imagens do casal, entre na Galeria de Fotos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sacolas plásticas são mais ecológicas que retornáveis e de papel, diz estudo.

Para surpresa de muitos, um relatório da Agência do Meio Ambiente do governo britânico, divulgado pelo jornal "The Independent" no dia 27/02/2011, revelou que as sacolas plásticas de supermercado, que são fabricadas com polietileno de alta densidade (PEAD), causam menos impacto no meio ambiente do que sacos de papel ou sacolas retornáveis fabricadas com outras matérias-primas como tecido de algodão, conhecidas como “ecobags” ou sacolas ecológicas.

Veja os detalhes revelados por este estudo nesta matéria “Saco plástico causa menos danos que ecobags, diz relatório”, publicada em 01/03/2011 pelo jornal Folha de São Paulo.

Há quinze anos, escrevi um artigo para os jornais catarinenses condenando o abuso do consumo de sacolas plásticas nas compras de supermercado. Fui influenciado, em parte, pelo que observei nos supermercados dos EUA durante um período que fiquei lá, a serviço do Brasil.

Não fazia idéia do que viria pela frente, que tema serviria apenas para as pessoas ganharem dinheiro e para a prática do marketing enganoso de algumas empresas. Foi uma decepção muito grande.

Contudo, ao escrever o artigo, naquela época, eu tomei o cuidado de não propor a substituição por sacos de papel, por exemplo. Eu já havia percebido a irracionalidade desta proposta considerando a pressão que o setor industrial de papel e celulose exerce sobre os remanescentes de Mata Atlântica, aniquilando a biodiversidade, para plantar eucalipto, matéria prima na fabricação papel e, também, o trauma de infância de testemunhar a morte de um rio, que exalava um mau cheiro insuportável, devido ao lançamento de efluentes tóxicos de uma fábrica de papel.

As sacolas feitas com material oxibiodegradável, que erroneamente são chamadas de ecológicas, é a pior solução. São mais poluentes do que as sacolas plásticas comuns. Trata-se de um material plástico que apenas se quebra em minúsculos pedaços (continua sendo plástico), contaminando para sempre o meio ambiente de forma mais agressiva porque libera outras substâncias químicas perigosas à saúde humana. Além disso, este material quando enterrado não se desintegra tão facilmente. É IMPORTADO e custa mais caro do que o material plástico do qual são feitas as sacolas tradicionais, que é produzido no Brasil, por centenas de pequenas empresas que geram milhares de empregos. Estão fazendo lobby para vereadores de todo Brasil aprovarem leis municipais que obriguem os supermercados e pequenos comerciantes a comprarem sacolas plásticas feitas com este material oxibiodegradável (que é importado), mais caras do que as sacolas plásticas tradicionais, com a propaganda enganosa de que são ecológicas. E quem vai pagar a conta? O consumidor, é claro.

Outra matéria interessante sobre sacolas plásticas foi publicada no jornal norte-americano USATODAY, dia 16 de março de 2011, mostrando que as grandes redes de supermercados acabaram com os descontos como forma de estimular o uso das sacolas retornáveis após chegarem a conclusão que esta estratégia não funciona. Os comentários feitos pelos leitores norte-americanos foram tão interessantes e instigadores quanto à própria matéria. Um dos leitores, por exemplo, alerta que as sacolas retornáveis (“ecobags”) tornam-se anti-higiênicas, acumulam germes com pouco tempo de uso. E esta preocupação não é exagerada, principalmente aqui, no Brasil. Não é desprezível a chance de uma sacola retornável ser contaminada com a bactéria da leptospirose, por exemplo, que tem sido letal para muitas pessoas.

Nesta matéria do USATODAY dá para entender como surgem estas campanhas inúteis de ajudar o meio ambiente sem reduzir o consumo, isto é, sem fazer nada, sem nenhum sacrifício, que acabam prejudicando ainda mais o meio ambiente. Muitas vezes, não é por má fé que estas campanhas são inventadas por alguém, mas pela visão muito limitada sobre as questões ambientais, sobre os verdadeiros impactos de cada matéria prima, por exemplo. No entanto, infelizmente, para a natureza não faz diferença se o dano causado foi feito com boas intenções ou não.

Recomendo este vídeo do YouTube que de uma forma bem humorada diz tudo sobre as sacolas "ecológicas" (ecobags) ECOBAGS: Fui transformado em VERDE OTÁRIO - Made in Vietnã

Sacolas oxibiodegradáveis não são ecológicas

Entrevista na íntegra de Germano Woehl Junior para um jornal de Santa Catarina em 31/08/2011 sobre leis que vereadores estão aprovando para favorecer a utilização de sacolas com plástico oxibiodegradáveis


JORNALISTA - Qual sua opinião sobre esta lei aprovada em Guaramirim?
GERMANO - É uma lei absurda. Vai prejudicar ainda mais o meio ambiente e lesar o consumidor de Guaramirim que vai pagar a conta, porque as alternativas existentes são mais caras. Esta campanha contra as sacolas plásticas de supermercado são criticadas severamente por cientistas especialistas na área e ambientalistas do mundo inteiro. Surgiu na década de 80 nos Estado Unidos, a partir da campanha de marketing promovida por uma agência de publicidade, sem a preocupação de ter uma análise mais aprofundada de especialistas sobre este assunto.

JORNALISTA - Estas sacolas sugeridas, oxibiodegradáveis, são menos prejudiciais ao meio ambiente? Ou é o contrário?
GERMANO - As sacolas feitas com material oxibiodegradável não são ecológicas. Não é uma boa alternativa. Podem ser mais poluentes do que as sacolas plásticas comuns. Trata-se de um material plástico com um aditivo químico especial para se quebrar em minúsculos pedaços, que continuam sendo plástico, contaminando para sempre o meio ambiente, já que estes pedacinhos não poderão mais ser removidos tão facilmente de locais inapropriados. Além disso, este material quando enterrado não se desintegra tão facilmente. As sacolas plásticas comuns também se esfarelam quando ficam um certo tempo expostas ao sol.


JORNALISTA - Quais os prós e contras desta mudança?
GERMANO - O plástico do qual são feitas as sacolas comuns é um subproduto (resíduo) do refino do petróleo e vai para o meio ambiente de uma forma ou de outra. Portanto, não há nenhum ganho ambiental com a substituição. O plástico oxibibiodegradável é um material importado e custa mais caro que o material plástico do qual são feitas as sacolas comuns, que é produzido no Brasil, por centenas de pequenas empresas que geram milhares de empregos. Um estudo cientifico da agência de meio ambiente do governo britânico revelou que sacolas retornáveis, conhecidas como ecobags, feitas de qualquer tipo de material, incluindo tecido de algodão, também causam mais impacto ao meio ambiente do que as sacolas plásticas tradicionais, mesmo que usadas centenas de vezes. Pior: grandes redes de supermercado estão importando estas falsas sacolas “ecológicas” da China, provocando desemprego aqui, no Brasil.


JORNALISTA - Qual seria a melhor solução para acabar com o problema do lixo gerado pelas sacolas plásticas? É mesmo necessário extingui-las, na sua opinião?
GERMANO - O plástico está presente em quase tudo que usamos e descartamos. Não adianta nada se preocupar apenas com as sacolinhas de supermercado. Veja quanto plástico é usado para embalar os móveis, roupas, eletrodomésticos, produtos de supermercado como carne, leite, queijos, biscoitos, produtos de higiene etc. Além disso, as pessoas usam as sacolas plásticas para acondicionar o lixo orgânico. Quem se lembra da época quando só existiam sacolas de papel, deve lembrar também de uma cena comum, que hoje não vemos mais, de alimentos, cereais principalmente, derramados nas proximidades das saídas dos mercados, sobretudo nos dias chuvosos. O impacto ambiental para produzir um quilo de alimento (combustíveis e lubrificantes das máquinas agrícolas e transporte, fertilizantes, agrotóxicos, energia elétrica da secagem, armazenagem, moagem etc.) é muito maior do que o causado pelo descarte de milhares de sacolas plásticas em um aterro sanitário. E o prejuízo financeiro para o consumidor que teve a infelicidade do saco de papel arrebentar e perder o alimento que comprou? Uma embalagem feita de derivado de petróleo (plástico bolha, isopor etc.) causa impacto quando descartado, é claro. Mas os danos para o meio ambiente são muito maiores quando uma fruta ou um eletrodoméstico é perdido por ter sido mal acondicionado durante o transporte ou armazenagem. Há também a questão da boa higiene proporcionada pelos plásticos, que é uma solução barata de acondicionamento que garante alimentos seguros acessíveis para consumidores de todas as classes sociais.

domingo, 20 de março de 2011

Parques eólicos devastam ecossistemas raros e frágeis

Ambiente frágil e muito especial (único) encontrado nos campos de altitute, no topo das montanhas mais altas da Serra do Mar da região norte de Santa Catarina, onde estão sendo realizados estudos para implantar um parque eólico, que vai arrasar este ecossistema.

O que faz uma fonte de energia aparentar ser mais limpa do que outra são as mentiras. O termo em si, “energia limpa”, já é contraditório.

Com muita propaganda, a energia eólica foi eleita como ícone das tão sonhadas fontes de energia limpa. Sob a égide da "energia que vem dos ventos", parques eólicos estão sendo implantados sem qualquer exigência de estudos de impacto ambiental, ou seja, sem nenhuma restrição, em cima de áreas preservadas que ainda conservam vestígios de ecossistemas em processo de extinção. Estão promovendo um verdadeiro massacre de formas de vida com esta falsa propaganda da energia eólica ser limpa.

Tempos atrás, encontrei sensores de vento (levantamento de potencial eólico) no topo das montanhas da Serra do Mar de Santa Catarina. Que é um lugar muito especial, preservadíssimo. Trata-se de um ecossistema com um tipo de vegetação único e extremamente frágil. Só pensar em construir alguma coisa neste local já deveria ser considerado crime contra a humanidade. A implantação de torres eólicas neste local produzirá um gravíssimo impacto ambiental.

No Nordeste, estão destruindo o que resta dos ecossistemas costeiros marinhos, como dunas e manguezais, para implantarem os parques eólicos. Sem falar do impacto na paisagem, que é arrasador. Veja abaixo a intervenção do Ministério Público Federal.

As pás da turbina, que medem tipicamente 45 m de comprimento, são feitas de fibra de vidro, material que já chegou a ser classificado com tendo potencial cancerígeno para os trabalhadores das fábricas de produtos a base deste material, mas esta classificação foi alterada mais tarde para substância sem risco para a saúde. O tempo de vida de uma pá de fibra de vidro é de poucos anos.

FIBRA DE VIDRO - A Fibra de vidro (fiber glass) é um tipo de plástico reforçado. É o resultado da aplicação da resina poliéster sobre uma manta de finíssimos filamentos de vidros que são flexíveis. A resina é um líquido viscoso misturado a um solvente químico, a esta mistura adiciona-se um catalisador e um acelerador (produtos químicos altamente poluentes). Devido ao reduzido tamanho, fragmentos da fibra podem ser absorvidos pelo nosso organismo, através da pele ou através da respiração. Tendem a ser rejeitados pelo organismo, mas como a sua eliminação é difícil, permanecem por muitos anos. Alojam-se, sobretudo, nos pulmões e pela difícil degradação das mesmas podem originar acumulação de liquido e cancro nos pulmões, entre outras doenças.


ENERGIA EÓLICA NO MUNDO
Capacidade instalada de produção de energia eólica no final de 2009 em MW (Mega Watts)

EUA 35.159 MW

Alemanha 25.777 MW
China 25.104 MW
Espanha 19.149 MW
Índia 10.926 MW
Itália 4.850 MW
França 4.492 MW
Reino Unido 4.051 MW
Portugal 3.535 MW
Brasil 744 MW



Detalhe do ambiente frágil e muito especial encontrado nos campos de altitute, no topo das montanhas mais altas da Serra do Mar da região norte de Santa Catarina, onde estão fazendo estudos para implantar um parque eólico.

Instalação do parque eólico em Bom Jardim da Serra (SC) mostrando o grave impacto sobre a paisagem e o ecossistema

MPF/CE: eólica ocupa área de proteção ambiental sem licenciamento do Ibama

A intervenção na área somente é possível quando tiver licenciamento ambiental do Ibama


Distante de qualquer interesse de impedir, por definitivo, a instalação do empreendimento Eólica Caçimbas Ltda, uma ação civil pública foi ajuizada pelo Ministério Público Federal em Limoeiro do Norte (CE) solicitando estudos prévios que viabilizem a implantação do empreendimento Eólica Caçimbas Ltda em local adequado no sentido de preservar o meio ambiente, levando em consideração que o projeto está sendo instalado em área de proteção ambiental (APA) e em plena zona costeira.

Diante desses fatos, o procurador da República em Limoeiro do Norte Luiz Carlos Oliveira Júnior solicita, antecipadamente, a anulação imediata do licenciamento ambiental concedido pela Secretária do Meio Ambiente do Estado do Ceará (Semace) para o empreendimento Eólica Caçimbas Ltda. O órgão ambiental estadual não tem competência para conferir o licenciamento de projetos como o empreendimento citado, cujos danos em potencial ultrapassam os limites territoriais do país, explica o procurador na ação.

Em seguida, após ser considerado o primeiro pedido em caráter de urgência, no documento, há como requerimento à Justiça Federal, para que seja reconhecida a competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) para proceder ao licenciamento do projeto em questão. Afinal sem o estudo prévio, o impacto da instalação do empreendimento pode trazer potencialidade de danos transnacionais, pois se trata de rota migratória de aves do hemisfério norte, além de tratar-se de área localizada em zona costeira e área de preservação ambiental.

Segundo o procurador, é de vital importância a determinação da justiça em somente permitir a intervenção na área destinada pelo empreendedor com o devido licenciamento ambiental por parte do Ibama.


Assessoria de Comunicação Social
Ministério Público Federal no Ceará
Tel: (085) 3266 7457
ascom@prce.mpf.gov.br

segunda-feira, 14 de março de 2011

Biodiversidade em caixas de fósforos: Idéia de empresa do Paraná nos anos 60 que contribuiu para a conservação da natureza no Brasil

Tico-tico-rei (Lanio cucullatus) fotografado na RPPN das Araucárias Gigantes, em Itaiópolis (SC). Clique na imagem para ampliar

Neste último feriadão de carnaval, no dia 05/03/2011, tivemos o prazer de observar e fotografar um casal de tico-tico-rei (Lanio cucullatus) na RPPN das Araucárias Gigantes, em Itaiópolis (SC). O casal estava com filhotes ainda dependentes dos pais para se alimentarem.

Foi uma alegria muito grande ter encontrado pela primeira vez o tico-tico-rei na natureza - e na mata que estamos protegendo - porque se trata de uma ave muito emblemática para mim. Quando era criança, no final da década de 60 e início de 70, eu colecionava caixinhas de fósforos estampadas com desenhos de aves brasileiras. E uma das aves estampadas que me deixou fascinado foi justamente o tico-tico-rei.

Naquela época, não havia outro material que mostrasse a biodiversidade brasileira e essa idéia genial da pequena empresa do interior do Paraná, Cia. de Fósforo Irati, fabricante dos Fósforos Paraná, com certeza foi a responsável, em parte, por eu ter me interessado pela natureza.

O fotógrafo da natureza Rudimar Cipriani, autor dessas fotos espetaculares de aves que a gente vê publicadas em muitos lugares, contou-me que também foi fortemente influenciado por estas caixas de fósforos da Cia. de Fósforo Irati. As fotos da coleção completa, das 24 estampas de aves brasileiras, gentilmente providenciadas pelo Rudimar, seguem abaixo.

Certamente, estas caixas de fósforos despertaram o interesse de muitas pessoas pela defesa da nossa biodiversidade. Pena que o bom exemplo de uma idéia simples mas brilhante dessa empresa do Paraná para popularizar nossa riquíssima biodiversidade não foi seguido por outras empresas brasileiras, que até nos dias atuais, com rarríssimas exceções, ignoram completamente a importância de salvar os remanescentes de Mata Atlântica que ainda abrigam um fabulosa biodiversidade, mas muito ameaçada.

Eu pesquisei na internet para saber o que aconteceu com esta empresa paranaense que deu uma contribuição tão importante para a popularização da biodiversidade da Mata Atlântica e descobri que foi vendida em 2000 para um grupo de investidores estrangeiros e passou a ser denominada Fosforeira Brasileira S.A. No site da empresa eu encontrei a seguinte informação:

“Em 1952 cidadãos de diversos grupos econômicos da cidade de Irati no Estado do Paraná reuniram-se num ambicioso projeto e, no dia 17 de novembro daquele mesmo ano, constituíram a Companhia de Fósforos Irati. Em 1954 as máquinas começaram a girar sob a pressão das caldeiras a vapor e os fósforos de segurança começaram a ser fabricados.”

As 24 estampas de caixas de fósforos temáticas da Cia. de Fósforos Irati (Fósforos Paraná), lançadas na década de 60 que contribuiu para popularizar a biodiversidade brasileira. Clique na imagem para ampliar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Estudantes de escolas públicas do interior de São Paulo aprendem a gostar da Mata Atlântica

Estudantes de Santa Branca (SP) soprando gás carbônico na água para observar o aumento da acidez pela mudança de cor do corante natural usado como indicador ácido-base (suco de repolho roxo). Este experimento interativo, muito divertido, serve para explicar porque o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera deixa mais ácida a água dos oceanos, prejudicando toda a vida marinha.

O Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade foi até Santa Branca (SP) atender os estudantes das escolas públicas do município.

Do dia 14/02 até 23/02/2011 foram atendidos 654 estudantes do ensino fundamental das escolas:
E.M.E.F. Profa. Palmyra Martins Rosa Perillo
E.M.E.F. Profa. Francisca Rosa Gomes

As atividades de educação ambiental ao ar livre foram realizadas nas trilhas interpretativas de um remanescente de Mata Atlântica do Recanto Engenho Velho, que é um ponto turístico da cidade.

Além de aprenderem sobre a biodiversidade da Mata Atlântica, os estudantes desenvolveram atividades práticas (interativas) sobre a importância da proteção dos recursos hídricos e um afluente do rio Paraíba.

Clique aqui para ver alguns dos relatórios dos estudantes da 8ª. série da EMEF Profa. Palmyra Martins Rosa Perillo de Santa Branca (SP)

O projeto foi patrocinado pela Johnson & Johnson e contou com o apoio da Prefeitura de Santa Branca que cedeu um ônibus para o transporte dos estudantes até o local das atividades.

Gostamos muito de atender os simpáticos estudantes de Santa Branca que demonstraram ter bastante interesse em aprender sobre a nossa biodiversidade e a defender o que resta da Mata Atlântica.