sábado, 3 de setembro de 2011

A luta para impedir que caçadores exterminem a fauna da Mata Atlântica

Acampamento de caçadores na RPPN Refúgio do Macuco, anexa à RPPN Corredeiras do Rio Itajai.

A Mata Atlântica é um ecossistema em acelerado processo de extinção. Restam apenas alguns fragmentos, que ainda abrigam animais raros e ameaçados de extinção. Medidas extremas são necessárias para salvar da destruição total estes vestígios da Mata Atlântica, como comprar estas áreas e transformá-las em reserva (RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural) . É o esforço que estamos fazendo nos últimos anos.

Acampamento de caçadores na RPPN Refúgio do Macuco, às margens do rio do Couro. Na margem oposta fica a RPPN Corredeiras do Rio Itajaí.

Não podemos deixar uma floresta vazia para as gerações futuras. Sem os animais uma floresta morre lentamente porque são eles que plantam as árvores. Deter a ação dos caçadores determinados a não desistirem enquanto não terem certeza que mataram o último animal aparenta ser uma tarefa fácil, mas descobrimos que não é tão simples assim. Esta batalha que estamos travando com os caçadores que atuam na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí e entorno nos mostrou que comprar uma área e transformar em RPPN é a parte mais fácil de todo o processo para proteger uma área.

Por ser uma das poucas áreas bem preservada e abrigar uma fauna impressionante de mamíferos e aves muito visados e já exterminados em outros lugares, a pressão de caçadores é muito forte. Já localizamos 9 barracos e ranchos no entorno e até dentro da RPPN construídos pelos caçadores (veja as imagens). Armadilhas e cevas são comuns de serem encontradas. Grupos de até 15 caçadores fortemente armados já foram vistos (e filmados) entrando na RPPN, na barra do rio do Couro (afluente do rio Itajaí) para acampar em um feriado prolongado e destruindo a tiros as placas de advertência que ali é uma área protegida.

Armadilha para capturar PACA (Agouti paca), mamífero ameaçado de extinção e muito raro em Santa Catarina, encontrada na RPPN Corredeiras do Rio Itajai, em Itaiópolis (SC).

Há dois meses, o rapaz que contratamos para cuidar da RPPN quase virou presa dos caçadores e teve a oportunidade de ver de perto um caçador em atividade. Ele ouviu um cachorro latir e se aproximar. Imediatamente se escondeu, deitando no chão. Logo em seguida apareceu o caçador com uma espingarda nas costas e atiçando cachorro. Para sorte do rapaz o cachorro não teve interesse em localizá-lo e o caçador que havia se aproximado até uns 10 metros desistiu de seguir adiante e afastou-se em seguida.

Não está havendo omissão das autoridades locais para o problema do crime de caça. O Ministério Público (Promotoria) e o Poder Judiciário de Itaiópolis têm aplicado todo o rigor da lei para desestimular a ação dos caçadores. Várias armas já foram apreendidas e infratores processados. A Polícia Ambiental de Canoinhas têm feito várias incursões pela mata, subindo e descendo grotões, para surpreender os caçadores que atuam nos lugares mais isolados. Já efetuou prisões de caçadores em flagrante. A Polícia Ambiental de Rio do Sul também faz rondas pela estrada às margens do rio Itajaí e já prendeu caçadores e traficantes de animais (passarinhos) em flagrante. Já tivemos apoio até da Polícia Federal, que recentemente abriu inquérito e está indiciando suspeitos.

Acampamento (barraco de lonas plásticas) de caçadores no meio da mata localizado e destruido pela Polícia Ambiental de Canoinhas (SC).

Com muita dificuldade, um grande esforço das autoridades, como da polícia ambiental, consegue-se inibir a ação de um grupo de caçadores, mas alguns meses depois surge outro mais desafiador ainda, que demanda muito mais esforços e exige outro tipo de tática. Os caçadores atuam em locais de difícil acesso, sem estradas e protegidos por barreiras naturais, como o rio Itajaí e paredões rochosos com até 100 metros de altura.

Acampamento de caçadores às margens do rio Itajai situado na área comprada recentemente para integrar a RPPN Corredeiras do Rio Itajaí.

Boa parte dos caçadores é de fora, mora em São Bento do Sul (SC), Blumenau (SC) Santa Terezinha (SC), Itaiópolis (SC) etc., e recebem apoio para guardar as armas e hospedagem de alguns moradores do entorno, geralmente com vínculo de parentesco com alguém do grupo. Alguns moradores do entorno não resistem à tentação de continuar caçando na RPPN, mesmo correndo o risco de serem presos, cujas chances aumentam a cada dia e eles sabem muito bem disso.

Ficamos indignados com o fato de toda a vez que um caçador é preso, indiciado ou teve a arma apreendida ele passa a nos ameaçar, mandando recado por meio de terceiros, geralmente parentes. Basta que o caçador perceba que aumentou o risco de ser pego em flagrante pela polícia que ele parte para ameaças. Dias atrás um recado que mandaram para mim foi o seguinte: “Eu sei como esperar com a espingarda e matar um bicho que anda por uma trilha na mata e tática para pegar o Germano é a mesma”. O que o caçador não sabe é que este tipo de ameaça não surte o efeito desejado, não me intimida mais, porque eu já estou acostumado.

Tubo de PVC com tampas utilizado para esconder espingardas encontrado em um acampamento de caçadores.

É um desafio muito grande defender com seriedade a natureza no Brasil. Os animais silvestres estão com dificuldade em sobreviver nos fragmentos cada vez menores da Mata Atlântica e ainda precisa escapar dos tiros e armadilhas de caçadores impiedosos, que não respeitam nada.

3 comentários:

Luís Funez disse...

Parabéns pelo trabalho que vocês vêm fazendo preservando e desmontando o esquema desses bandidos. Venho à tempo acompanhando e sempre que olho essas coisas fico mais revoltado, não que seja diferente aqui na minha região, mas é a nossa realidade e temos que mudá-la. Acredito que educando corretamente as nossas crianças de agora, esse e outros problemas venham a reduzir ou desaparecer.

Marlene Koch disse...

O Germano entra sempre mais na leveza do ser em suas atitudes pró-vida animal. Exceto os animas domesticados os ademais todos temem o homem como sendo o pior predador entre todos os animais. Não só pela caça como pelo estreitamento do habitat. Penso que os que são a favor da caça deveriam postar comentário aqui para que possamos tentar entender o que vai na cabeça de um predador que preda por prazer, diferente dos índios ou de um animal faminto. A caça por esporte é um assassinato de sangue frio. Todos os animais tem todos os sentidos que os humanos e de forma mais aguçadas, inclusive a dor. Com a diferença que eles amam mais a vida do que os caçadores. 99 por centos dos caçadores fazem isso por prazer, não por fome. Esse tipo de prazer abre a porta para o inferno. Toda vítima sentida aguardará o seu predador além da vida. Quantas sombras aguardam pelos exterminadores das obras divinas. ´
É morrendo... que eles saberão. Os assassinos desconhecem a eternidade da mesma forma que desconhecem a dor em outro ser. Corte seu dedo... oh predador! Veja seu sangue correr e pense que o teu dedo são as asas de um pássaro... mesmo assim... sentirás a dor, a dor da fera que cai ferida. É além da vida que o caçador será caçado.

Defensor dos Animais disse...

Parabéns pelo trabalho, continuem e não desistam nunca. Não baixem a cabeça e não deixem que ameaças atrapalhem o trabalho. Porque eles são muito machos contra lebres, capivaras, cotias, nambus, e etc. Também estou estarrecido com a quantidade e a ignorancia dos caçadores aqui na minha região, a serra gaucha. Estou fazendo o que posso, denunciando o que sei e na minha propriedade estou enfrentando os vagabundos, sim vagabundos. Quem caça hoje, é ignorante e vagabundo. Estou enfrentando, muito bem armado, porque essa é a lei que eles conhecem. Aqui a patrulha ambiental contratou mais 35 PMS e o cerco esta fechando. E eu estou adquirindo um binóculo de visão noturna e vou passar 5 noites por semana a espera dos ?/)&%!?. Eles mesmo sabem muito bem o efeito de um SG...